Publicado no nº31 da revista "Final Conflict"
Quem trouxe o terror para as ruas de Jerusalém? Quem iniciou o ciclo de destruição e caos? Quem é que explodiu com inocentes e edifícios? Quem é que assassinou soldados Britânicos, enquanto outros lutavam contra a ‘Alemanha Nazi’? O terror na Palestina só tem um pai: o Sionismo.
Detesto clichés. No entanto aquele sobre o terrorista de uns
ser o libertador[1] de outros tem uma certa verdade.
Frequentemente o ‘freedom fighter’ é visto como tal em resultado
de uma visão romântica ou ingénua, como é o caso da imagem de
Che Guevara.
Por vezes a passagem do tempo distorce a percepção,
particularmente em casos em que a “correcção política”[2] impede
que se analisem os factos. É nesta categoria que podemos incluir
a campanha de terror organizada por Avraham Stern, Yitzhak
Shamir, Menachem Begin, e outros, no protectorado Britânico da
Palestina.
A população judaica na Palestina
Há a comum noção errada de que foi apenas após o final da II
Guerra Mundial que a população judaica surgiu na Palestina em
resultado da imigração proveniente da Europa arrasada pela
guerra, e que isso, juntamente com as tentativas Britânicas para
conter o fluxo levou à campanha Sionista pela independência.
Isto não é verdade, e para analisarmos as raízes da campanha
Sionista temos de olhar para o início do séc. XX.
Em 1918 havia cerca de 50.000 judeus na Palestina, número esse
que foi aumentando gradualmente até ao ponto de ter duplicado
por volta de 1925. Tão cedo quanto 1921 os Palestinianos Árabes
pressionaram[3] a Grã-Bretanha com o objectivo de obterem um
governo representativo que lhes permitisse ter poder de veto
sobre qualquer futura imigração. Sentindo um descontentamento
crescente entre os Árabes, e perante um cenário de motins de rua
em 1921/22, o Alto Comissário Britânico[4] Sir Herbert Samuel
ordenou a suspensão da imigração Judaica, e embora as tensões
tenham arrefecido imediatamente, ela foi calmamente retomada.
Ainda antes destes distúrbios, em 1920, um organização judaica
para-militar ilegal, a ‘Haganah’, foi formada no Protectorado.
A imigração aumentou em 1933, em resultado da ascensão ao poder
de Hitler. Entre 1933-36 a população judaica aumentou de 230.000
para 400.000. A 15 de Abril de 1936 os Árabes declararam uma
greve geral que rapidamente se tornou numa rebelião aberta. As
autoridade Britânicas só conseguiram restaurar a ordem em
Outubro, altura em que já tinham morrido 138 Árabes, 80 Judeus,
e 33 soldados Britânicos. As tentativas Britânicas para resolver
o problema tornaram-se cada vez mais desesperadas. Em 1937 uma
Comissão Real[5] anunciou que um plano para dividir o
protectorado em dois Estados: a Galileia e a planície junto à
costa pertenceriam aos Judeus, enquanto que Gaza, Sameria, a
Judeia do Sul e o deserto de Negev seriam governadas pelos
Árabes[6]. Os Britânicos, cada vez mais proteccionistas em
relação aos seus poderes políticos e interesses comerciais,
manteriam o controlo de Jerusalém, Belém[7], Jaffa e Lod. Os
judeus concordaram com o plano, vendo-o como uma maneira de
conseguir um ponto forte[8], mas os Árabes não. Eles
compreenderam que qualquer concessão ao lobby Sionista seria
rapidamente seguida por mais exigências e intimidação. O plano
nunca foi implementado. Foi também em 1937 que Vladimir “Zeev”
Jabotinsky, Sionista e Comunista, formou a “Irgun Zvai Leumi”
(Organização Militar Nacional).
Jabotinsky e a Irgun
Jabotinsky nasceu em Odessa, em 1880, foi jornalista e escritor,
e nos meses finais da I Guerra Mundial, estranhamente[9],
juntou-se ao Exército Britânico (não se sabe com que objectivo)
e lutou ao lado das tropas do General Allenby. Juntamente com
Avraham Tehomi, Jabotinsky formou a Irgun, com elementos
militantes da Haganah.
Os objectivos declarados da Irgun eram expulsar os Britânicos da
Palestina, derrotar politicamente os Árabes, trazer um milhão de
colonos Judeus por ano e colonizar ambas as margens do rio
Jordão.
O Gang Stern
Após a morte de Jabotinsky, em 1940, (sofreu um ataque cardíaco
enquanto angariava fundos junto dos judeus de Nova Iorque) a
liderança da Irgun passou para um imigrante polaco chegado
recentemente – Menachim Begin. Ao mesmo tempo o movimento
dividiu-se, tendo os elementos mais brutais afastado-se sob a
liderança de Abraham Stern, formando aquilo que veio a ser
conhecido como o ‘Gang Stern’. O Gang Stern acreditava que não
devia haver qualquer limitação à expansão Sionista e tentou,
imediatamente, forçar uma mudança de política assassinando
oficiais Britânicos. O ódio de Avraham Stern pelos Britânicos
era de tal ordem que os considerava um inimigo maior do que
Hitler, e opunha-se a que judeus se alistassem para a guerra
contra a Alemanha. Sentimento bizarro, mas que ajuda a
compreender a ideologia de Stern.
De facto, em Setembro de 1940, o gang Stern entrou em
negociações com Mussolini, através de um emissário, e em Janeiro
de 1941 Stern enviou, pessoalmente, um agente a Beirute
(controlada por Vichy) para entregar uma carta aos
representantes do Reich. Foi também no Gang Stern que o futuro
Primeiro Ministro de Israel, Yitzhak Shamir - adquiriu
notoriedade, assumindo a liderança do grupo terrorista após a
morte de Stern. O extremismo político de Stern, as tentativas de
ligação com os Nazis, os assaltos à mão-armada valeram-lhe o
desprezo da maioria dos Judeus. Os Britânicos intensificaram a
sua ‘caça’ e capturaram-no num esconderijo em Tel Aviv, a 12 de
Fevereiro de 1942, onde foi imediatamente fuzilado. Há uma
palavra hebraica – MEKHABBEL – que descreve alguém que luta
contra o Estado através de violência política. Por outras
palavras: um terrorista. Stern, Shamir e os seus camaradas
usavam esta distinção com grande orgulho.
Parece que os terroristas não tinham problemas em assassinar os
seus, para alcançar os seus objectivos. Em Novembro de 1940, a
Haganah colocou explosivos no SS Patria no porto de Haifa. Em
resultado da catástrofe morreram 270 imigrantes. Em 1942 os
Sionistas usaram explosivos para afundar o SS Struma no mar
Negro. Morreram 769 homens, mulheres, e crianças. Ambas as
atrocidades foram atribuídas à imposição Britânica de quotas de
imigração.
O terror começa a sério
A evolução do nacionalismo Sionista tinha levado a um ponto em
que os radicais é que tinham o controlo. E assim a matança
começou.
Em Novembro de 1942, os assassinos Eliyahu Hakim e Eliyahu
Beit-Tzur, do Gang Stern, viajaram até ao Cairo e assassinaram o
Lorde Moyne, Secretário de Estado Colonial Britânico para a
Palestina[10]. (Ambos foram apanhados e enforcados pelos
Britânicos. O Primeiro Ministro Israelita, Yitzhak Shamir,
antigo membro do Gang Stern, trouxe os seus restos mortais para
Israel para que fossem sepultados como “heróis”. Muitas ruas
receberam o nome destes assassinos e terroristas).
Como acontece frequentemente, à medida que a campanha de terror
se intensificou, as vitimas foram os polícias e soldados
Britânicos. A lista seguinte não é, de maneira alguma,
exaustiva, mas ilustra bem a campanha de terror e assassínio
levada a cabo pelos Sionistas.
14 Fevereiro 1944 – 2 polícias mortos
2 Março 1944 – 1 polícia morto
23 Março 1944 – 3 mortos no Quartel General de Tel Aviv. Três
policias mortos no bombardeamento do Quartel General em Haifa.
Superintendente da polícia assassinado em Jerusalém
8 Agosto 1944 – 10 polícias mortos durante a tentativa falhada
de assassinio do Alto Comissário Britânico
29 Agosto 1944 – Oficial superior da polícia assassinado
29 Setembro 1944 – assassínio do assistente do superintendente
25 Abril 1946 – 7 soldados assassinado, durante o sono, em Tel
Aviv
22 Julho 1946 – 91 mortos no ataque bombista ao hotel King
David, que servia de escritórios do Secretariado do governo
Palestiniano e de Quartel General do exército Britânico. O
bombardeamento foi feito com a conivência da Agência Judaica, de
David Bem-Gurion.
13 Novembro 1946 – 2 polícias mortos em ataques bombistas
18 Novembro 1946 - 5 polícias mortos em ataques bombistas
21 Novembro 1946 – ataques bombistas aos escritórios do governo
Britânico. 9 mortos
2 Dezembro 1946 – 4 soldados Britânicos mortos
Natal de 1946 – ataque à bomba a esquadra de polícia. 6 mortos
26 Dezembro 1946 – 4 cidadãos Britânicos, raptados e espancados
29 Dezembro 1946 - 3 soldados Britânicos, raptados e espancados
12 Janeiro 1947 – 2 polícias mortos em atentado bombista
1 Março 1947 – atentado bombista ao clube de oficiais, em
Jerusalém, e outros ataques terroristas. 18 mortos e 85 feridos
18 Abril 1947 – ataque ao hospital militar Britânico. 1 morto
20 Abril 1947 – ataque ao armazém da Cruz Vermelha. Vários
soldados feridos
22 Abril 1947 – ataque a um comboio. 5 soldados mortos e 23
feridos
26 Abril 1947 – polícia assassinado em Haifa
9 Junho 1947 – 2 polícias raptados e espancados
31 Julho 1947 – 2 sargentos são encontrados enforcados. Os seus
corpos estavam mutilados
Agosto 1947 – 3 polícias assassinados
26 Setembro 1947 - 4 polícias assassinados
29 Setembro 1947 - 9 polícias e 4 civis assassinados
Janeiro 1948 – 1 soldado morto e 4 feridos
Fevereiro 1948 – 27 soldados e aviadores Britânicos assassinados
e 25 feridos num ataque a um comboio
23 Fevereiro 1948 – 2 polícias assassinados na cama de hospital
em Wallach, e 1 polícia assassinado em Jerusalém
Aprovação oficial
Não há qualquer dúvida de que esta campanha de terror, teve,
pelo menos, a aprovação da Agência Judaica (organização oficial
representante dos Judeus Palestinianos). O conluio entre a
Agência e o Gang Stern é confirmado no Livro Branco do Gabinete
Colonial Britânico sobre a Palestina[11]. O presidente[12] da
Agência Judaica era David Ben-Gurion, que mais tarde se tornou
no primeiro Primeiro Ministro Israelita. De facto, tem sido
alegado que foi Ben-Gurion que aprovou o ataque ao hotel King
David. Shamir e Begin nunca tentaram esconder o seu passado de
“freedom fighters”, vangloriando-se da campanha para livrar a
Palestina dos odiosos Britânicos.
Quando a Union Jack foi hasteada pela última vez em Jerusalém, a
14 de Maio de 1948, Ben-Gurion tornou-se Primeiro Ministro.
Algumas semanas antes deste acontecimento a Irgun e o Gang Stern
viraram as suas atenções para outros alvos. A 10 de Abril de
1948 a população de Nasr el Din foi massacrada. A 5 de Maio de
1948 foi a vez de homens, mulheres e crianças da aldeia de
Khoury. No dia em que o mandato Britânico acabou os aldeões de
Beit Drass foram chacinados.
Na aldeia de Deir Yassin, a Irgun matou 250 Árabes, numa orgia
de violência sem precedentes. O Secretário de Estado Britânico
para as Colónias, falando aos Comuns disse: “Esta bárbara
agressão é uma prova de selvajaria. É um crime a acrescentar à
longa lista de atrocidades cometidas pelos Sionistas até este
dia, e para o qual não conseguimos encontrar palavras de
repulsa...”
Perto do final de 1948, o Gang Stern assassinou o mediador das
Nações Unidas para a Palestina, o Conde Folke Bernadette. O seu
“crime” foi preocupar-se com os Árabes Palestinianos.
Infâmia e Traição
Devemos ter em mente que tanto a Irgun como o Gang Stern
incluíam “Bretões”. Alguns, alegadamente, lutaram nas ‘Brigadas
Internacionais’ comunistas durante a Guerra Civil Espanhola.
Outros, vergonhosamente, eram antigos soldados Britânicos que
viraram armas contra os seus antigos camaradas. Devemos também
lembrar-nos de que muitos destes actos assassinos contra
soldados Britânicos foram levados a cabo enquanto o Exército
Britânico libertava campos de concentração na Europa.
Durante toda esta campanha de terror podemos ver a mão de homens
que mais tarde se tornariam altas figuras do Estado de Israel e
heróis nacionais. Outra figura, que fez nome como o “Carniceiro
de Beirute”, muito depois da retirada Britânica, é Ariel Sharon,
que também se tornou Primeiro Ministro de Israel. Parece que a
linhagem continua, o que não é nada bom sinal para os
Palestinianos, ou para qualquer hipótese de paz, numa parte do
mundo que tem conhecido muito sofrimento e derramamento de
sangue ao longo dos séculos.
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Notas:
[1] no original: freedom fighter
[2] no original: political correctness
[3] no original: lobbied
[4] no original: British High Commissioner
[5] no original: Royal Commission
[6] no original: Galilee and the Coastal plain were to be
Jewish, whilst Gaza, Sameria, South Judea and the Negev desert
were to be run by the Arabs
[7] no original: Bethlehem
[8] no original: foothold
[9] no original: contrived
[10] no original: British colonial Secretary of State for
Palestine
[11] no original: British Colonial Office White Paper on
Palestine (cmd. 6873)
[12] no original: Chairman