Vladimir Jabotinsky e o Fascismo Judeu
Por Roberto Bardini
Vladimir Jabotinsky foi um dos líderes sionistas mais brilhantes e fanáticos da historia. Inimigo mortal do socialismo, foi o seu crítico mais feroz quando o sionismo social-democrata conquistou a hegemonia do sionismo mundial…Pode-se ser judeu e fascista? Um recorrido rápido pela agitada vida do ucraniano Vladimir Jabotinsky, nascido em Odessa em 1880 e falecido em Nova Iorque em 1940, talvez responda a esta pergunta. Jornalista, escritor, orador, poliglota, soldado e dirigente político, também foi, dependendo de por onde se olhe, combatente pela pátria ou terrorista.
Influenciado pelo “O Estado Judeu”, livro de Theodor Herzl publicado em 1896, Jabotinsky adoptou o sionismo na sua expressão mais extremista e promovia uma sociedade de “homens obedientes até a morte”. Opôs-se ao socialismo e ao movimento operário judeu na Palestina. Fundou o grupo Betar, milícias juvenis que vestiam camisas pardas, como os membros dos Comandos de Assalto nazistas (Sturm Abteilungen ou SA), e são organizadas ao estilo dos “squadristi” fascistas. Menahem Begin e Itschak Shamir, que chegariam a ser primeiros ministros de Israel, foram na juventude seguidores de Jabotinsky. O Duce Benito Mussolini considerava-o um dos seus e o chamava de “cidadão fascista”. O trabalhista David Ben Gurion, fundador do Estado Judeu em 1948, comparou-o com o Führer e o apelidou de “Vladimir Hitler”.
Uma Idéia Fixa
Conhecido como “Zeev”, Vladimir Jabotinsky falava fluentemente russo, francês, inglês e alemão. A última língua que aprendeu foi o hebraico, logo traduzindo “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Quando em 1914 rebentou a Primeira Guerra Mundial, criou uma Legião Judaica a serviço dos aliados. Pretendia libertar a Palestina do domínio turco-otomano e, depois, conseguir um lugar nas negociações de paz, com direito a exigir o estabelecimento de um Estado judeu.
Ao finalizar a guerra, em 1918, Jabotinsky estabeleceu-se com a sua esposa e filhos na Palestina, já então sob controle da Inglaterra. Em 1920, o descontentamento árabe pelos festejos de Pessach – uma das datas sagradas judias na qual se comemora a saída dos hebreus do Egipto – derivou em violentos protestos de rua. Jabotinsky organizou uma represália contra os nativos, e não lhe tremeu a mão na hora de apertar o gatilho. Os britânicos prenderam-no e foi julgado por posse ilegal de armas. Sentenciado a quinze anos de prisão, foi posto em liberdade alguns meses mais tarde.
Quando, em 1923, os ingleses adjudicaram terras na Transjordânia aos palestinianos, Jabotinsky propôs uma “revisão” das relações entre o movimento sionista e o Reino Unido. Os objectivos – tão agressivos como quase todas as decisões que tomou em sua vida e as acções que promoveu – incluíam a restauração da Legião Judaica e a chegada massiva de até 40 mil judeus por ano à Palestina.
Em 1925, Jabotinsky anunciou o estabelecimento da Aliança de Sionistas Revisionistas, com escritórios em París, e a criação do Betar, movimento juvenil nacional-sionista. Passa os anos seguintes dando conferências e colaborando em dezenas de publicações para promover mundialmente a sua causa. Predica que a actividade económica do sionismo deveria se concentrar na economia privada, para financiar a imigração massiva para a Palestina. Retorna a Jerusalém em 1928, onde se torna gerente de uma companhia de seguros e edita um jornal.
Em 1930, enquanto se encontra viajando, as autoridades inglesas proibiram-lhe o retorno à Palestina. Desde então, e até a sua morte, Jabotinsky fomentou o nacional-sionismo em vários países.O “Cidadão Fascista”
Jabotinsky não teve pudor em estabelecer contactos com mandatários anti-semitas, como o marechal polaco Jozef Pilsudski, um ex-comunista que em 1926 deu um golpe de Estado e instaurou um regime próximo ao nacional-socialismo. Mas o seu inspirador supremo foi Benito Mussolini. Admirava o fascismo e aspirava copiá-lo na Palestina. “Que queremos nós? Queremos um império judeu, igual como a Itália”, declarou.
Quando o Duce assumiu em 1922, Jabotinsky lhe fez chegar uma mensagem por um enviado especial. Dois anos depois, um representante oficial do Partido Fascista Italiano visitou a Palestina para estabelecer relações com os seguidores do dirigente judeu.
A agência de notícias fascista, Avanti Moderno, aplaudiu a celebração do Congresso dos Sionistas Revisionistas em 1935, pelo apoio que este movimento brindou à Itália durante a campanha na Etiópia. Nesse ano, Mussolini comentou ao Rabino de Roma: “As condições necessárias para o êxito do movimento sionista são possuir um Estado judeu, com uma bandeira judia e língua judia. Há uma pessoa que conhece isto muito bem e é o cidadão fascista Jabotinsky”.
O certo é que a perseguição de judeus não figura entre as prioridades de Mussolini. O Duce teve várias amantes, entre elas duas judias: Angelica Balabanov e Margherita Sarafatti. A primeira, quando militou no socialismo; a segunda, logo após assumir o poder. Além disso, cinco judeus – entre eles César Sarafatti, irmão de Margherita – participaram na fundação dos “Fasci de Combattimento” em 1919.
Mussolini, um ex-socialista que recebeu de seu pai o nome de Benito em homenagem ao político liberal mexicano Benito Juárez (1806-1872), só assinou leis anti-semitas em 1938. Então já estava há treze anos no poder, e a Itália começava a transformar-se num Estado satélite da Alemanha. Até esse momento, a comunidade judaica italiana conviveu tranquilamente com o fascismo.O escritor Daniel Muchnik garante que o fato de que un judeu possa ser fascista é tão compreensível como que possa ser um gangster. E descreve Jabotinsky da seguinte forma:
“Foi um dos líderes sionistas mais brilhantes e fanáticos da historia. Ninguém lhe foi indiferente: todos o amaram ou o odiaram. Inimigo mortal do socialismo, foi o seu crítico mais feroz quando o sionismo socialista conquistou a hegemonia do sionismo mundial. [...] Por volta de 1930, o partido de Jabotinsky, chamado revisionista, começou a assemelhar-se muito aos movimentos fascistas da Europa, e Ben Gurión chegou a chamar seu líder de ‘Vladimir Hitler’. O ideal de Jabotinsky, tal como ele mesmo o descreveu, era o de uma sociedade monolítica, de homens todos iguais e todos obedientes até a morte, capazes de atuar em uníssono” (Mundo Judío, Lumen/Mairena, Buenos Aires, 1984).
“Atire e Deixe de Conversa Fiada”
Em 1934, “Zeev” firmou um pacto com David Ben Gurion, líder do sionismo trabalhista, secretário geral da poderosa Federação de Trabalhadores e porta-voz da principal tendência sionista em Palestina. Mas o acordo, que procurava diminuir as tensões entre as duas tendências, fracassou. Nacional-sionistas e sionistas trabalhistas continuaram como ferrenhos adversários políticos durante décadas. A divisão se ampliou mais com o assassinato, numa praia de Telavive, de Chaim Arlozoroff, jovem e proeminente líder sionista moderado, que foi atribuído a seguidores de Jabotinsky.
Quando em 1936 uma comissão britânica recomendou a partilha da Palestina entre um Estado árabe e outro judeu, Jabotinsky rejeitou a proposta e ordenou incrementar os ataques contra os ingleses e os nativos árabes. No ano seguinte se transformou no comandante do “Irgun”, grupo paramilitar clandestino dos revisionistas. “Maldita é toda a guerra, mas se não quiseres matar um inocente, morrerás. E se não queres morrer, atira e deixa de conversa fiada”, escreveu em julho de 1939.Benoît Ducarme anotou em “Israel, Likud e o sonho sionista”:
“A primeira etapa da evolução do ‘revisionismo’ sionista é a da constituição da Nova Organização Sionista, fundada em 1935, de cujo seio surgiram dois grupos armados que, substancialmente, não diferiam politicamente em muito: o Irgun e o Grupo Stern. A diferença estava na forma de combater a presença britânica na Palestina [...]. Era necessário acabar com os britânicos ou dialogar com eles?
A direção do Irgun, sob o comando de [Menachem] Beguin, era partidária de uma revolta imediata contra os britânicos. [...] A cúpula do grupo Stern pretendia provocar a revolta inclusive antes de concluído o conflito mundial. De fato, dita organização fez propostas a Mussolini no final dos anos trinta. Segundo os planos que se discutiram, os nacional-sionistas deveriam aliar-se com a Itália para acabar com os ingleses na Palestina, fundar um Estado hebreu de carácter corporativo satélite do Eixo, e colocar os lugares santos de Jerusalém à disposição do Vaticano. Estas propostas não se puderam concretizar, assim como a oferta feita a Hitler de recrutar 40 mil soldados judeus procedentes da Europa Oriental para enfrentar os britânicos na Palestina. Hitler preferiu apostar na carta árabe”.
Quatro Dólares e um Cachimbo
No dia 4 de agosto de 1940, durante uma visita a um campo de treino juvenil de Betar nos arredores de Nova Iorque, Jabotinsky morreu de um infarto. Faltava pouco para festejar os seus 60 anos, dos quais os dez últimos tinha permanecido fora da Palestina. Seus partidários contam que seus únicos bens pessoais eram um cachimbo e quatro dólares.
Cinco anos antes, o líder nacional-sionista tinha redigido o seu testamento. Nele solicitava que o seu cadáver fosse trasladado a Israel “apenas por ordem do governo judeu que será estabelecido”. Em 1965, seus restos foram levados e sepultados no Monte Herzl, em Jerusalém. Em 1977, os herdeiros políticos de Vladimir “Zeev” Jabotinsky chegaram ao poder em Israel com Menachem Begin e uma aliança de partidos “revisionistas” chamada Likud.. Em “Mundo Judío”, Daniel Muchnik afirmou que Begin seguramente passará à historia como “o primeiro chefe de governo judeu e fascista”.
Publicado originalmente em língua castelhana, em Bambú Press – 28/07/2006
Tradução: sionismo.net